Lucas Leiroz: 2013 não foi uma revolução colorida. 2016 não foi um golpe de Estado - tampouco aquela patacoada de 8 de janeiro teve alguma intenção de mudança de regime.
Para entender o Brasil atual, é preciso compreender as mudanças de regime que ocorreram no século passado (desde a Era Vargas):
Vargas aceitou que os militares brasileiros lutassem na Europa sob comando americano, em troca da industrialização do país - uma boa jogada econômica, mas com altos custos políticos. Os militares voltaram e derrubaram Vargas;
Sob o modelo democrático, os EUA perceberam que não seriam capazes de impedir o retorno do trabalhismo e do desenvolvimentismo, então articularam o golpe de 1964;
Dentro do regime militar, as tendências nacionalistas e soberanistas superaram as alas mais entreguistas, e o Brasil passou a figurar no cenário global praticamente como um país não alinhado. Em resposta, os EUA começaram a pressionar por uma redemocratização controlada.
(Não por acaso, ainda durante o regime militar, Lula começa a ser treinado para se tornar um dos principais nomes da Nova República, sendo formado politicamente por ninguém menos que Golbery - literal agente americano no Brasil.)
Os militares deixam o poder e, três anos depois, é promulgada a Constituição que inaugura o regime político atual. A esquerda aceitou o pacto democrático ao passar para a esfera de influência da ala correspondente dos EUA (o Partido Democrata), abdicando de intenções revolucionárias. A direita, por sua vez, também abandonou qualquer projeto nacional em troca da égide republicana.
De lá para cá, o que temos visto são meramente ajustes, mudanças programáticas e correções de agenda por parte de Democratas e Republicanos - que, por aqui, se materializam em eventos como 2013, 2016, 2023 e na crise atual.
O Brasil da Nova República jamais passou por um golpe ou mudança de regime. A Nova República é, ela mesma, uma revolução colorida permanente. É a forma mais perfeita e duradoura que Washington encontrou de controlar um país continental e diverso como o nosso.
As mudanças de regime no Brasil, desde Vargas, ocorreram em 1945, 1964 e 1985–88 (entre o fim do regime militar e o início da Nova República). De 1988 até agora, estamos vivendo sob o mesmo regime, com as típicas contradições de um sistema controlado por grupos rivais estrangeiros.